3 de jan. de 2008

Parte 01

Os primeiros raios mornos da manhã finalmente lambiam-lhe o rosto. Seus olhos finalmente começaram a se abrir, lentamente, tentando se acostumar com a claridade. Finalmente aqueles olhos azuis se abriram, vislumbrando o céu limpo e tão azul quanto eles. Demoraram alguns bons minutos para que o sono finalmente deixasse o garoto e o fizesse perceber que havia algo de errado. O céu, apesar de muito limpo e belo aquela manhã, não era o que ele esperava ver aquela manhã, e nem sentir o chão de terra duro sobre o qual estava deitado, esperava encontrar o teto de madeira polida de seu quarto e sentir o corpo repousando sobre colchão macio de plumas de ganso. No reflexo do susto o garoto se pôs de pé, e, então, veio o primeiro susto, pois não era apenas o teto e sua cama que haviam sumido.
O cenário que se formava diante daqueles olhos de um azul tão brilhante quanto a superfície de um lago era aterradora, não por conter sinais de destruição ou crueldade, pelo contrario, não havia nada. O garoto deu alguns passos para frente, ainda descrente do que via. Seu quarto, sua casa, a vila inteira onde morava, haviam desaparecido, deixando no lugar apenas uma cratera rasa, como se uma grande explosão tivesse ocorrido, desintegrando tudo em seu raio. Caiu de joelhos. As lagrimas começaram a escorrer pela sua pele levemente bronzeada pelas tardes debaixo do sol. Suas mãos se fecharam na poeira do que um dia fora a vila de Sunspeak, e onde as lagrimas faziam uma pequena poça salgada.
Algumas horas já haviam se passado, e o garoto acordava mais uma vez. Havia adormecido, exausto de seus prantos. Ele agora se levantava, lentamente e quase sem forças, já ciente do destino que sua vila tivera, mas ainda sem saber a causa nem o motivo. Olhou a sua volta, afastando os cabelos negros que haviam se grudado em sua testa. Suspirou. Não havia mais o que fazer ali, tudo que lhe pertencia havia simplesmente evaporado. Pensou no tio com quem morava, único membro da família que ao havia sido levado por uma praga que assolara a Sunspeak quando ainda era um bebê. Nunca conhecera a mãe, nem o pai, e agora perdera a única família que possuía. Nunca mais brincaria com seus amigos entre as barracas de frutas, ou brincaria de pega-pega no bosque ali perto.
Foi caminhando lentamente até a borda da cratera, arrastando os pés no chão. Achou um lugar para sentar em baixo de uma das primeiras arvores do bosque a alguns metros do buraco que um dia fora Sunspeak. Ficou ali durante horas, até que o dia virou noite e a noite virou dia novamente. Dormira pouco e mal durante a noite, precisava sair de lá, porem não possuía forças para se mexer. Poderia muito bem seguir a estrada até a vila mais próxima, o Vale dos Krane não ficava a mais de duas horas de caminhada dali. Mas por que iria? O que faria por lá sem dinheiro nem conhecer ninguém. As duvidas lhe pesavam e a tristeza lhe consumia até que adormecera mais uma vez.
-Garoto? Está tudo bem, garoto?
Lentamente abriu os olhos. Havia uma sombra entre ele e o sol, sombra essa que ele não conhecia reconhecer. Levou uma das mãos à testa, para poder enxergar melhor o rosto de quem lhe dirigia a palavra. Era um rapaz jovem, pouco mais velho que ele, provavelmente em seus dezessete anos. Os cabelos castanhos pouco compridos desenhavam perfeitamente o rosto de feições tão nobres quando os olhos igualmente castanhos. O estranho se abaixou, ficando na altura do garoto que agora esfregava os olhos e o olhava com uma expressão que misturava duvida e curiosidade.
-Q... Quem é você?
Perguntou fracamente o garoto ao estranho. Um sorriso calmo e acolhedor se formou no rosto do viajante, que agora pegava um cantil que estava preso em seu cinto e o oferecia.
-Você me parece exausto... O que esta fazendo aqui sozinho no meio do nada? Eu ia fazer uma parada em Sunspeak antes de voltar para casa, mas acho que peguei o caminho errado... Os deuses devem ter me guiado até aqui para te encontrar... Meu nome é Terance Krane Sisck, paladino do Sol, mas pode me chamar de Terry... Qual seu nome?
O garoto olhou para o paladino com grande pesar no olhar. Os olhos azuis já não pareciam mais tão brilhantes. Pegou o cantil que lhe era oferecido e tomou um longo gole, estava morrendo de sede e agora percebia que seu estomago já havia começado a reclamar. Seu olhar foi em direção da cratera que um dia fora seu lar, tornou a olhar o paladino e respondeu, com a voz rouca e fraca.
-Você não errou o caminho... Você está em Sunspeak... Ou onde um dia esteve Sunspeak... Meu nome é Vykon... Janus Vykon... Ultimo habitante de Sunspeak...

Nenhum comentário: